A cachaça é uma bebida alcoólica brasileira destilada do caldo de cana fermentado. É talvez mais conhecido como o principal ingrediente utilizado em uma caipirinha, o muito celebrado coquetel brasileiro.

 

A cachaça é muitas vezes confundida com rum, já que ambas derivam do processamento de cana-de-açúcar. A cachaça, no entanto, está sujeita a um processo de refino mais genuíno e destilada do próprio suco da cana (o rum é feito de melaço, um subproduto). Essa distinção dá à cachaça seu sabor exclusivo e aroma forte.

 

Assim como o rum, existem duas variedades de cachaça: normal – branca ou prata -, e envelhecida – amarela ou ouro. As cachaças mais inanimadas são engarrafadas diretamente do processo de destilação e tendem a ser as mais utilizadas em caipirinhas.

 

As cachaças amarelas / douradas, por sua vez, são mais escuras e oferecem um sabor muito mais complexo. Eles são envelhecidos em barris de madeira – mais de duas dúzias de tipos de madeira são usados, incluindo amburana, jequitibá e tapinhoã. Essa cachaça raramente é usada em coquetéis e geralmente é consumida de forma simples.

 

A cachaça adquiriu uma vasta gama de apelidos ao longo dos anos – mais de 2000 no total! Alguns dos mais comuns são água que passarinho não bebe, café-branco e esquenta-corpo, mas talvez o sinônimo mais onipresente de cachaça seja pinga, derivado do verbo português pingar (pingar), que fala da interessante história que leva à sua descoberta.

As origens da cachaça não são totalmente claras e um pouco contestadas. O açúcar sempre foi um grande negócio no Brasil desde que os portugueses introduziram a cana-de-açúcar para a colheita, há mais de 500 anos. Os primeiros colonos estabeleceram enormes plantações e descobriram uma série de subprodutos e resíduos do processo de ebulição da cana-de-açúcar, um dos quais eles chamaram de cagaça – um suco de cana espumoso, que eles separaram para nutrir o gado e os escravos.

 

Uma fazenda em particular no Estado de Pernambuco, de acordo com o folclore local, percebeu que esse caldo fermentaria naturalmente se fosse deixado por tempo suficiente e, devido ao calor, evaporaria para formar gotículas no teto. Essas gotículas – agora altamente alcoólicas em conteúdo – subsequentemente “pingar” para o chão, para o deleite dos trabalhadores sedentos.

 

A cachaça aparentemente “caiu do céu”.

 

Outros relatos traçam as origens da cachaça para um determinado local em São Vicente de 1532, que afirma ser a primeira plantação e destilaria de cana-de-açúcar do Brasil. Os direitos de vanglória são um tanto acadêmicos, de qualquer forma, foi uma descoberta do acaso e uma que colocaria em movimento uma história impregnada de intrigas políticas e socioeconômicas.

Não demorou muito para que os primeiros produtores explorassem o valor de troca de sua nova descoberta, e a cachaça foi introduzida nos mercados europeu e africano. No entanto, inconscientemente, a cachaça provou ser uma dura competição para o molho caseiro de Portugal, a bagaceira (Pomace Brandy), que levou o governo português a impor uma cobrança excessiva à cachaça em uma tentativa de estagnar a produção e eliminar a demanda.

 

Essa injusta tributação desencadeou a Revolta da Cachaça, em 1660, quando um grupo de proeminentes produtores de cachaça invadiu o Palácio Presidencial, no Rio de Janeiro, e obrigou o governador a se esconder. Ele estabeleceu um precedente para protestos e manifestações públicas no Brasil.

Segundo a ABRAB, a Associação Brasileira de Bebidas, o Estado de São Paulo responde por aproximadamente 46% da cachaça brasileira, bem à frente de Pernambuco e Ceará, que representam 12%, respectivamente. O domínio de São Paulo é inteiramente graças ao volume da produção industrial e, de fato, outros estados – como Minas Gerais – ganharam uma reputação muito mais invejável entre os aficionados da cachaça com base em sua produção artesanal.

 

Diz a lenda que muitas cachaças brancas foram transportadas para Minas Gerais em imensos barris de madeira durante a corrida do ouro no século 70, que posteriormente transformou seu sabor e aparência, assumindo uma aparência mais ambarina e envelhecida. Até hoje, Minas Gerais, com cidades que prosperaram como resultado da produção de cachaça, como Salinas, continua sendo a estrela de ouro da cachaça envelhecida de qualidade. Esse apetite pela produção artesanal significa que apenas Minas Gerais possui mais de 1.500 marcas registradas de cachaça; São Paulo tem menos de 700, apesar do poder de destilação. O turismo na Cachaça continua a crescer, e viagens organizadas, como as vinícolas da África do Sul ou da Austrália, são cada vez mais comuns.

A cachaça ganhou popularidade e notoriedade no exterior graças à exportação cultural da Caipirinha. No entanto, não tem sido fácil navegar, especialmente nos EUA, onde qualquer bebida derivada da cana-de-açúcar deve ser rotulada como rum – no caso da cachaça, “rum brasileiro”. Houve um período contínuo de debate sobre a separação da cachaça em sua própria classe, como a tequila, ou uma “denominação” dentro de uma classe mais ampla, como conhaque e champanhe. Finalmente, em 2012, após quase 40 anos de lobby, o governo dos EUA concordou em reconhecer o espírito como um produto genuinamente brasileiro, o que significa que ele deve ser rotulado e vendido de acordo. Por sua vez, o Brasil se comprometeu a reconhecer o Bourbon americano e o uísque do Tennessee.

 

Essa é uma boa notícia para várias marcas nacionais, que avaliam seu potencial comercial no exterior, o que, em todos os casos, é abundante – de forma alarmante, a maioria de toda a cachaça produzida – quase 99% – é consumida no Brasil. Talvez seja hora de premiar a cachaça em Londres!